Decisões de planejamento são diferentes de decisões de execução

Planejamento
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Você precisa fazer o planejamento do ano de uma organização de alguns milhões de reais e milhares de pessoas, levando em conta o comportamento da concorrência e do mercado nesse período. Depois precisa seguir o plano. Qual o melhor nível de detalhes?

 

Esse é o terceiro texto da série sobre processos decisórios iniciada em Decisões, um bônus da liderança?. Nesse artigo será apresentado um modelo onde a organização pode ser vista de duas perspectivas diferentes, como Ator Racional ou como Entidade Político-Burocrática. Esse tipo de análise permite lidar melhor com decisões tomadas ao se realizar planejamentos e como isso se diferencia das decisões que serão tomadas durante a execução desse plano.

 

Organização como Ator Racional ou Entidade Político-Burocrática.

Para fins desse tipo de análise, uma organização pode ser vista como o que se chama de Ator Racional, ou então como um sistema Político-Burocrático. Cada um desses prismas pode ter sentido em um momento distinto.

 

Organização como Ator Racional:  Significa usar um alto grau de abstração e assumir a organização e outros sistemas complexos, como o mercado, como um ente racional, ou ator. Isso é feito através de personificação.

 

Nesse tipo de abstração, pode-se dizer que  “Se o mercado seguir em tal direção, então nossa empresa fará isso ou aquilo”.  Esse nível de abstração normalmente é feito mais ou menos nessa linha para se tomar uma decisão:

  • Imagina-se por um momento que a organização é um ente ou ator racional, único.
  • Estuda-se os objetivos desse ator.
  • Estuda-se que alternativas existem para esse ator, de acordo às situação macro e aos objetivos.
  • Estuda-se as consequências de cada alternativa para esse ator.
  • Faz-se a escolha.

 

Fica claro que quando se faz isso, estamos esquecendo toda a multiplicidade de pessoas e processos e desejos conflitantes existentes dentro de entes complexos como “o mercado”  ou “a empresa”.  Se esquece de que para o ator fazer algo, muitos detalhes e jogos políticos são necessários. Dai vem a segunda maneira de ver a empresa:

 

Organização como uma entidade Político-Burocrática: Nesse modelo a empresa é observada através de uma abstração diferente, e sua ação será o resultado da soma de uma série de negociações entre várias pessoas, várias decisões, vários interesses conflitantes. Nesse modelo há uma importância grande em políticas e jogos de poder, e também em entender as burocracias e estruturas organizacionais que facilitem (ou dificultem) as negociações.

 

Quando se pensa nesse modelo e na questão proposta no início desse texto, ou seja, em ‘como fazer o planejamento do ano de uma organização de alguns milhões de reais levando em conta o comportamento da concorrência e do mercado nesse período‘, corre-se o rico de enlouquecer. Como planejar cada uma dessas infinidades de detalhes?

 

Abstrações diferentes ao se planejar e ao se executar.

 

Cada modelo de abstração apresentado resumidamente aqui, mas cujos estudos podem ser aprofundados na literatura especializada, tem seu lugar em momentos diferentes.

 

Quando se está em fase de planejamento, a análise de uma infinidade de detalhes tornaria a abstração de Entidade Político-Burocrática impraticável.  Usa-se a abstração de Ator Racional para tomar decisões de planejamento.

 

Quando se está executando o plano, a abstração de Ator Racional é impraticável. Usa-se a abstração de Entidade Político-Burocrática para tomar decisões em tempo de execução dos planos.

 


 

Responder às mudanças

 

“Nenhum plano de batalha sobrevive ao contato com o inimigo”

 

A frase acima, lugar comum já em livros e artigos sobre gestão, é atribuída a um estrategista militar chamado Helmuth von Moltke. Embora essa seja talvez sua frase mais célebre, isso não significa que ele não planejava. Na verdade ao contrário,  como pode ser visto em seus planos para algumas guerras, seu planejamento era detalhado e levava em consideração centenas de variáveis.

Gosto de pensar no manifesto ágil, ao se pensar em planejamentos: Responder a mudanças é mais importante que seguir um plano. Acho que isso se encaixa bem nesse contexto das decisões em planejamento seguirem uma abstração mais alto nível e sem detalhes, já que esse plano dará uma direção geral. No dia-a-dia detalhes irão mudar e aparecer e desaparecer e as decisões de execução deverão se adaptar a todas essas mudanças, mantendo os objetivos gerais definidos.

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Referências: